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Assuntos proibidos, perigosos e inúteis

Por Antunes de Lima
Segunda, 26 fevereiro 2024

A vida já me proporcionou dezenas de privilégios. O primeiro deles é a própria existência. Nasci vencendo mais de duzentos milhões de outros seres possíveis! Todos nós colecionamos esta vitória primordial. Daquele momento inicial até hoje, no rol de meus privilégios, tive um todo especial e muito raro: ser colunista de jornal.

Durante todo o ano de 2001, semanalmente, escrevi uma coluna para um jornal de Bento Gonçalves, minha cidade. De janeiro a dezembro, foram mais de cinquenta colunas, tratando de assuntos variados sobre fatos, notícias e eventos locais, regionais e internacionais. Na redação de meus comentários, aprendi o que um colunista pode escrever, o que deve publicar e o que é melhor não mencionar. São os tais de assuntos proibidos, outros perigosos e muitos, simplesmente, inúteis.

Embora todo brasileiro tem o direito de livre expressão garantido pela Constituição, na prática não ocorre. Numa de minhas colunas, comentei que Bento Gonçalves é um dos principais roteiros de traficantes. Quem divulgou primeiro foi um jornal da capital e eu me limitei a transcrever para o jornal local. Recebi inúmeras recomendações de que não escrevesse mais sobre drogas e traficantes, pois poderia ser “apagado”. A gíria significa ir para o céu! E eu não pretendo descansar por enquanto!

Além de temas ligados ao tráfico de drogas, é perigoso comentar sobre o Judiciário e seus membros, pois são avessos a críticas. Falar da polícia - que anda armada por dever de ofício - é igualmente perigoso. Temo mais a polícia, pela prepotência de alguns de seus integrantes, do que os bandidos. Já fui ameaçado por um policial federal de carabina na mão! Outros cidadãos já sofreram ameaças e até ferimentos. É só conferir as páginas policiais dos jornais!

O jornalista ou colunista está “proibido” de fazer qualquer comentário que desagrade a anunciante do próprio jornal. A empresa é poluidora do meio ambiente, mas tem publicidade no periódico. Nada se comenta sobre ela. Pode-se perder a verba publicitária e a liberdade de expressão! Falar que pessoas influentes da cidade praticaram crimes de corrupção, roubaram da comunidade e outras denúncias são proibidas! Bico calado. Caneta parada. Teclado inativo!

Excluídos os temas acima e mais alguns, que nem menciono, ficam os assuntos inúteis de constar em colunas jornalísticas. Dentre outros, cito alguns. Elogiar prefeito, vereador ou secretário municipal é perda de tempo. Não valorizam. Não dão retorno e, muito menos, agradecem. Sugerir mudanças nos órgãos públicos é como chover no mar. Não muda nada! É perda de tempo e de talento. Estou comentando isto, pois senti ao vivo e a cores estes acontecimentos. Elogiei diversos vereadores por seus projetos, sugeri legislação a cargo do município sobre diversos assuntos, comentei alterações para um trânsito melhor e nada! Sem comentários. Cheguei a ter a petulância de escrever que as autoridades constituídas são analfabetas e não leem jornais! Nem mesmo se incomodaram!

Por isso tudo passei a entender porque a maioria dos colunistas abordam assuntos leves, inconsequentes ou, apenas, literários. Não é meu estilo. Gosto da polêmica. Respeito a opinião alheia, mas coloco a minha sobre o que entendo. Desconhecendo o tema, procuro informar-me. As fontes estão à disposição!

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*Entre em contato com o colunista através do e-mail: antunesdelima@uol.com.br  O colunista participa de forma voluntária com seus artigos. A opinião do colunista não necessariamente reflete a posição desta mídia.

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